Categoria: Artigos
Data: 21/11/2023
Há vários motivos para estudar o tema riquezas e bens, e também para refletir
sobre como agir quando essa questão está em jogo. Primeiro, os bens materiais
— posses, dinheiro, propriedades, salário, etc. — têm um papel crucial e central
na vida. Uma vez que a capacidade financeira apresenta um peso importante nas
decisões e escolhas, é muito importante conhecer os ensinamentos de Deus,
contidos na Bíblia, sobre esse tema. 

Segundo, há na Bíblia mais passagens referindo-se ao dinheiro e à atitude que
devemos adotar sobre ele e os bens materiais do que aludindo ao amor. Por si só,
esse já é um indicador da importância do assunto.

 Terceiro, a crise institucional, política e financeira no Brasil nos desafia, como
cristãos, a entender o papel dos bens materiais em nossa vida e a preparar-nos
para enfrentar as dificuldades geralmente advindas em tempos como esses. 

Uma das passagens mais conhecidas da Bíblia sobre o tema da riqueza encontras-e no evangelho de Mateus, mais precisamente no Sermão do Monte. Em Mateus
6.19-34, o Senhor Jesus orienta os discípulos sobre como relacionar-se com os
bens materiais, uma vez que as riquezas, ou a falta delas, são uma tentação para
todos, ricos e pobres. Além disso, os discípulos teriam de lidar com os fariseus,
escribas e mestres — líderes religiosos extremamente avarentos. A compreensão
errônea sobre o tipo de relacionamento dos discípulos com as riquezas poderia
prejudicar o trabalho deles de evangelizar e ensinar as boas-novas do reino. 

Jesus, então, convoca os discípulos a fazerem duas escolhas. A primeira é quem
seria o deus deles: as riquezas ou o Senhor Deus? A segunda é como viveriam:
angustiados ou pela fé? As escolhas propostas pelo Senhor têm suas implicações.
Na primeira — as riquezas ou o Senhor Deus, descrita em Mateus 6.19-21 —,
Jesus lança mão de três elementos contrastantes para desenvolver seu ponto. 

No que se refere às riquezas, o primeiro contraste está relacionado com sua
natureza, ou seja, riquezas terrenas e riquezas celestiais. O Senhor proíbe aos
discípulos o acúmulo de riquezas terrenas (Mt 6.19). 

É importante notar, porém, que Jesus não proibiu seus discípulos de trabalharem
e receberem salário, ou de proverem para dias difíceis, ou ainda de prosperarem
ou melhorarem sua condição de vida. A Bíblia não faz esse tipo de restrição. A
proibição de Jesus está em colocar nas riquezas nossa esperança e confiança, em
fazer dos tesouros terrenos nosso deus e em ter como alvo principal da vida o
acúmulo de tesouros neste mundo. E o motivo dessa proibição é claro: tesouros
terrenos são transitórios (Mt 6.19). 

Naquela época os bens materiais — roupas finas e elegantes, tapetes caros,
barras de ouro e de prata, pedras preciosas e objetos de valor — eram guardados
em casa. Ora, as roupas podem ser comidas pelas traças, e os tesouros, comidos
pela ferrugem e pelo mofo. No fim, tudo se deteriora. Além disso, os bens
poderiam ser levados pelos ladrões, que arrombavam facilmente as casas, feitas
de barro e tijolo. Mas isso também se aplica a nós, hoje. Embora as riquezas
sejam guardadas em bancos e cofres fortes, ainda permanece o princípio que
Jesus ensinou: as riquezas deste mundo são passageiras, efêmeras, transitórias. 

Portanto, em vez de acumular tesouros terrenos, Jesus nos ensina a ajuntar
tesouros no céu (Mt 6.20). E com isso ele não se refere a um tesouro de méritos
útil para nossa salvação, como apregoam a teologia católica e o pensamento de
alguns rabinos do antigo Israel. Em vez disso, tesouros nos céus são tudo aquilo
que podemos levar para além do túmulo, como santidade de caráter, obediência à
vontade de Deus e o fruto de nosso serviço ao Senhor. 

Lucas destaca particularmente o ato de dar aos necessitados (Lc 12.33). Uma das
maneiras de ajuntar tesouros nos céus é ofertar os tesouros da terra. Foi o que
Jesus disse ao jovem rico: “Venda todos os seus bens e dê o dinheiro aos pobres.
Então você terá um tesouro no céu” (18.22). Mais uma vez, a Bíblia não proíbe a
posse de propriedades e bens. O problema está em fazer deles ídolos, como no
caso do jovem rico, e a melhor maneira de derrubar tais ídolos é ofertar e
contribuir com generosidade. 

Portanto, devemos acumular tesouros nos céus porque sua natureza é duradoura
e segura (Mt 6.20), em contraste com a natureza transitória das riquezas deste
mundo, e porque eles estabelecem uma relação em nosso coração: se nosso
tesouro está no céu, lá também se encontra o coração, mas se estiver na terra,
nela também ele se fixará (6.21). Com isso Jesus não está condenando os ricos
por serem ricos, nem está impedindo os discípulos de prosperarem. Ele está nos
advertindo dos perigos da prosperidade e de colocar o coração e a confiança nas
riquezas, e delas dependermos. Está nos alertando a não nos insensibilizarmos
perante os pobres, a não nos tornarmos avarentos, e assim deixarmos de
contribuir para o reino.

Lutero disse que o Deus de um homem é aquilo que ele mais ama, pois ele o
carrega no coração, dorme e acorda com ele, seja o que for — riquezas, ego,
prazeres ou popularidade. A melhor forma de fugir dessa tentação é pela
generosidade. Dar, contribuir, ofertar, oferecer. É assim que quebramos o poder
que o dinheiro exerce sobre nós. “Tesouros nos céus” são, portanto, o favor de
Deus, seu agrado e seu prazer em nós, e é isso que devemos buscar acima de
tudo. 

O segundo elemento contrastante a que Jesus lança mão está em Mateus 6.22-23:
os olhos bons e os olhos maus. Olhos bons equivalem ao coração que se fixa nos
tesouros celestiais, mencionados no primeiro tipo de contraste, enquanto olhos
maus se referem ao coração arraigado aos tesouros da terra. A imagem dos olhos
representa nossa percepção das coisas. Jesus compara os olhos a uma lâmpada.
Quando acesa, ela permite ver, por exemplo, o que há em um aposento.
Comparativamente, os olhos permitem a entrada do conhecimento, que por sua
vez afetará todo o corpo, isto é, toda a nossa vida. Nessa comparação, olho bom
significa olho singelo, simples, focado em uma única direção: em Deus e em
suas coisas, o que traz luz para nossa vida.

 Em contrapartida, olhos maus são os que se fixam em dois focos concomitantes,
resultando em uma vida de insegurança, incerteza e trevas. Ao mesmo tempo
que tentam agradar a Deus, os olhos maus representam a avareza, a cobiça e o
amor ao dinheiro. A questão é que não podemos ter dois corações, com dois
objetivos concomitantes e diferentes. Não podemos conciliar olhos bons e maus.

 Finalmente, o terceiro elemento contrastante de que Jesus faz uso está em
Mateus 6.24: Deus e as riquezas. Jesus se refere às riquezas como um “senhor”,
e senhores exigiam de seus escravos devoção integral. “Riquezas” é a tradução
da palavra aramaica mamom, que carrega uma conotação muito negativa. Elas
são vistas como um deus, uma potestade, um ídolo do coração que tenta nos
dominar e tomar o lugar do Senhor. Era impossível a um escravo servir a dois
senhores ao mesmo tempo. A devoção a um implicaria o desprezo ao outro.
Portanto, é impossível servir às riquezas e a Deus, pois são opostos e rivais no
que se refere à devoção.

 “Servir às riquezas” significa fazer delas o alvo maior da vida, acumular
tesouros, juntar bens materiais, depender deles, dedicar-se inteiramente a ter
mais e mais. Significa também preservar essas riquezas, guardá-las, não dar, não
ofertar, não ser generoso. Por isso, a avareza é chamada de idolatria na Bíblia,
pois reflete uma profunda devoção ao deus mamom. Em contraste, servir a Deus
é usar os bens materiais para os fins por ele determinados, como o sustento
pessoal e da família, o sustento da obra de Deus e o auxílio aos pobres e
necessitados.

 Podemos afirmar que o maior desafio da igreja, hoje, não é o islamismo, o
marxismo, o ateísmo, mas o materialismo que permeia nossa cultura, que
contamina a igreja, produzindo consumismo, avareza, mesquinhez,
insensibilidade para com a obra de Deus e, no caso de líderes, uma visão
empresarial da igreja. 

Se a primeira escolha está em servir ao Senhor, a segunda escolha proposta por
Jesus aos discípulos, descrita em Mateus 6.25-34, é como viveriam, se ansiosos
ou pela fé. Ou seja, depois de ensinar-lhes que deviam servir apenas ao Senhor e
dedicar-se a ele como único Deus verdadeiro, Jesus os ensina a encarar as
necessidades materiais da vida. Como consequência do que diz o texto de
Mateus 6.24, o Senhor os exorta a não viverem ansiosos quanto às coisas futuras
(6.25), quanto ao que é necessário para a vida — o que comer, beber e vestir —,
mas em vez disso a descansarem na providência de Deus (6.26-30). 

Para fortalecer a confiança dos discípulos, Jesus faz duas comparações usando
elementos da natureza: as aves do céu (6.26-27) e os lírios do campo (6.28-30).
Na primeira, ele mostra que as aves — embora não trabalhem e tenham muito
menos valor que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus — são
sustentadas pelo Pai celeste. Deus não haveria de sustentar seus filhos? Na
segunda, a comparação é com os lírios do campo (6.28-30), flores frágeis, muito
coloridas e de vida breve, que brotavam nas campinas da Palestina. Deus
“vestia” os lírios a ponto de superarem a glória da beleza de Salomão. Será que
Deus não haveria de vestir seus filhos e filhas?
Com essas comparações Jesus quer identificar a origem da ansiedade pelas
coisas materiais: a falta de fé (6.30). Isso não quer dizer que nos preocuparmos
com ganhar o pão e envidarmos esforços nesse sentido sejam pecado. Se o
fizermos confiados na providência de Deus, teremos paz e tranquilidade na
fartura e na pobreza. Mas, na grande maioria dos casos, é a falta de fé na
providência e no cuidado de Deus que torna os crentes ansiosos e aflitos com
relação ao amanhã.

 E Jesus vai além. Ele mostra aos discípulos que é preciso buscar em primeiro
lugar o reino de Deus (6.31-34), e para tanto faz duas proibições. Primeiro,
proíbe a inquietação com o que comer, beber e vestir (6.31-33) por serem
preocupações típicas dos pagãos (6.32). Nosso Deus sabe do que precisamos
antes de lhe pedirmos, portanto viver inquietos com o sustento revela falta de fé
no Deus que conhece todas as nossas necessidades e que é poderoso para atendêlas — ao contrário dos deuses dos pagãos, que afinal nem deuses são. 

O que fazer, então? Em vez de nos lançarmos ansiosamente em busca do pão de
cada dia, devemos priorizar o reino de Deus. Jesus promete que, se buscarmos o
reino de Deus em primeiro lugar, todas as demais coisas — como comida,
bebida e vestuário — nos serão acrescentadas por Deus (6.33). Isso não quer
dizer que podemos ficar confiantemente em casa, sem trabalhar, esperando que o
pão caia já prontinho do céu. Mas quer dizer que, se nosso objetivo maior e
primeiro é viver para a glória de Deus, trabalhar e ganhar dinheiro para sua
glória, ele haverá de abençoar nosso trabalho e por meio dele nos dar tudo de
que precisamos.

 A segunda proibição do Senhor é a inquietação com o amanhã (6.34). Ou seja,
não devemos viver ansiosos e temerosos pelo que o amanhã nos reserva. Muitos
cristãos caem nessa armadilha pecaminosa. Jesus disse que “o amanhã trará suas
próprias inquietações”, ou seja, deixemos as preocupações para o amanhã,
quando e se o mal nos alcançar. Inquietar-nos antecipadamente revela
pessimismo paralisante de quem não acredita que Deus faz tudo acontecer para o
bem de seu povo (Rm 8.28). Assim, diz o Senhor: “Bastam para hoje os
problemas deste dia”. Não precisamos viver, hoje, os males do amanhã, que nem
sequer aconteceram. Muitos de nós carregam o fardo imenso dos temores de
eventos que talvez nunca ocorram. 

Em síntese, nosso Mestre queria nos ensinar que a vida não pode ser
determinada pela busca de riquezas nem pelo apego aos bens materiais.
Devemos aprender a viver livres da ansiedade quanto ao futuro. Mais ainda,
devemos ser generosos, desapegados dos bens e sempre dispostos a compartilhar
com outros. 

PARA REFLETIR
Você acha que essas orientações do Senhor quanto ao dinheiro não se aplicam a
quem está desempregado ou ganha pouco?
Qual a verdadeira razão de sua ansiedade e preocupação quanto ao futuro, ao
sustento e às condições de vida?
Qual é o seu objetivo na vida?
Você tem sido generoso ou contido?

Texto extraído do Livro: O que a Bíblia fala sobre  Dinheiro do pastor Augustus Nicodemus

Tags: jesus dinheiro

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